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Por mais sustentabilidade nos portos

Por mais sustentabilidade nos portos

Por Henrique Martins* – Com o crescimento constante do transporte marítimo de carga, muitos portos enfrentam desafios em várias partes do globo, com muitos atingindo limites de utilização sem espaço para expansão e com processos ambientais ineficientes e caros. No nosso caso, não é diferente, basta ter ouvido falar do custo Brasil, pois os portos também apresentam gargalos que oneram as movimentações da balança comercial.

Segue uma breve análise do ponto de vista ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social, Governança) da atividade logística portuária, já que o setor de transportes como um todo, em especial o de cargas, está no foco dos esforços para redução de emissões de gases do efeito estufa, a fim de contermos o ritmo acelerado das mudanças climáticas.

Por isso, inovações que otimizem e diminuam custos e riscos nas operações são extremamente bem-vindas, para superar as principais limitações à sustentabilidade do negócio no longo prazo. Citemos algumas delas:

Características dos ambientes portuários

Ambiente barulhento e poluente devido ao uso de motores de combustão, com tráfego altamente complexo, misturando veículos internos com caminhões externos visitantes, o que pode tornar a operação no pátio insegura e propensa a acidentes, demandando um foco elevado na gestão de riscos.

Complexidade da estratégia de pátio

Nos sistemas operacionais dos terminais, o agendamento contínuo de espaço para receber e despachar contêineres de acordo com entrada e saída dos navios nos portos passa a ser fundamental, já que a demanda requer a disponibilização de guindastes, mão de obra e transporte integrado à logística dos clientes usuários, importadores e exportadores, oferecendo um grande desafio na gestão dos recursos para irem de encontro às oscilações da demanda.

Pegada ambiental da operação terrestre

Por causa da limitação do espaço para armazenagem provisória, característica da grande maioria dos portos, os contêineres à espera dos trâmites burocráticos e do transporte são geralmente empilhados uns em cima dos outros, acarretando a dificuldade do manuseio individual, conforme a demanda, reduzindo assim, a eficiência na movimentação das mercadorias e agregando custos adicionais à cadeia.

Ocupação de imóveis nobres à beira-mar

Após a retirada dos contêineres dos terrenos portuários, a necessidade de outros terrenos próximos para distribuição conhecidos como áreas retro portuárias, agrega mais custos de propriedade e aluguel na operação, sendo que para maximizar o empilhamento nos espaços disponíveis é necessário manter ou contratar diversos tipos de equipamentos e manter mão de obra capacitada, investir em seguros de riscos como parte dessa gestão, em especial o risco de falhas humanas na operação pela periculosidade inerente ao manuseio de estruturas pesadas.

Dificuldade para atender navios maiores

A escala de dificuldade e complexidade aumenta para recepcionar navios maiores com demandas de serviços significativas que acarretam picos. A produtividade, nesses casos, requer soluções eficientes para uma movimentação mais rápida de contêineres por hora.

Além disso, as mudanças nas demandas por serviços portuários vêm requerendo cada vez mais, terminais que oferecem desempenho previsível e alta confiabilidade. Nesse sentido, a aplicação de tecnologia é imprescindível para gerenciar o aumento significativo de cargas em trânsito.

Assim, para tornar o comércio global mais eficiente e sustentável, será preciso inovar com soluções que otimizem espaço e consumo de energia para essa movimentação constante de carga.

Apenas para citar um exemplo, o sistema de armazenamento e manuseio de contêineres desenvolvido por um dos grandes operadores portuários no mundo, chamado de High Bay Storage (BoxBay), merece destaque por ser uma tecnologia inovadora que melhora significativamente as operações em terminais de contêineres.

Sistemas de armazenagem verticais, como este, permitem o empilhamento dos contêineres em vários níveis, com cada um sendo colocado em um rack, o que facilita o acesso individual mais ágil, diminuindo a necessidade de vários equipamentos pesados e emissores de poluentes, além de reduzir riscos no manuseio das caixas por mão de obra especializada. Além disso, painéis solares podem ser instalados no teto dessas estruturas, possibilitando até mesmo zerar o custo da energia na sua operação.

Em comparação com outros portos que utilizam um sistema de empilhamento semelhante, embora seja geralmente mais caro expandir a armazenagem verticalmente, há muitos casos, em todo o mundo, em que esse conceito é vantajoso comparado a ouras alternativas – não apenas em termos de capacidade, mas também em eficiência, resiliência e sustentabilidade.

Por fim, avanços tecnológicos nesse sentido são bem vindos a fim de possibilitar o crescimento do comércio internacional sem a necessidade de expansão imobiliária para armazenagem de mercadorias horizontalmente, e também vão de encontro ao nono Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que busca o alinhamento de governos e empresas para o crescimento de infraestrutura durável respeitando as limitações do planeta;  mais especificamente sua meta 9.1 que versa sobre o desenvolvimento de infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável e resiliente, incluindo a regional e transfronteiriça, para apoiar o desenvolvimento econômico e o bem-estar humano, com foco no acesso equitativo e a preços acessíveis para todos.

*Henrique Martins é especialista em procurement na CMA/CGM, empresa global de transporte marítimo de cargas, com foco em operações, precificação e compras e um olhar específico para a sustentabilidade dentro da cadeia de valor da logística portuária, sempre estudando, desenvolvendo e criando oportunidades para redução de custos e externalidades inerentes ao setor.

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